Alimentação das Crias: Aleitamento


Alimentação das Crias: Aleitamento

Profa. Dra. Aurora M. G. Gouveia
Médica Veterinária Sanitarista.
Professora da Escola de Veterinária da UFMG
aurora@vet.ufmg.br

Dra. Heloisa H. Magalhães
Médica Veterinária.
Instrutora do SENAR-MG
heloisamagalhaes@terra.com.br

 

A alimentação das crias é fator primordial na formação e manutenção de um rebanho economicamente produtivo, onde os animais atingem precocemente o peso adequado para reprodução, influenciando conseqüentemente, na idade ao primeiro parto.

A administração do leite aos filhotes em quantidades adequadas acarretará em maior ou menor desenvolvimento ponderal dos mesmos. Qualquer que seja o esquema de aleitamento adotado, os cabritos devem ter á disposição, a partir do terceiro dia de vida, concentrado com 12 a 18% de proteína bruta (PB), sal mineralizado e água fresca, bem como volumoso de boa qualidade a partir de oito dias de idade.

COLOSTRO, A PRIMEIRA DEFESA

O colostro, inadequadamente chamado por muitos de “leite sujo” é o leite secretado pela cabra durante os primeiros dias após o parto, apresentando elevados teores de nutrientes essenciais à saúde, bem como altos níveis de anticorpos, que constituíram a primeira defesa dos filhotes. Para que estes anticorpos sejam absorvidos pelos filhotes, estes devem recebê-lo nas primeiras seis horas de vida. Após este período, esta absorção é muito reduzida; entretanto, o colostro continua sendo fonte de fornecimento de nutrientes. Assim, durante a primeira semana de vida, o colostro constitui a alimentação básica das crias, que deverão receber de 500 a 800 ml por dia.

TÉCNICAS DE ALEITAMENTO

1. Aleitamento natural

É a forma tradicional de alimentação das crias no sistema de produção de ovinos e caprinos para corte, onde os filhotes ficam com a mãe nos sete primeiros dias de vida, após o que, são separados e levados às mães duas por dia para mamar. É um método que vem sendo substituído já que apesar de necessitar de mão-de-obra menos especializada, dificulta a exploração do rebanho, sendo o leite “deixado para os filhotes”, insuficiente para sua boa criação. Além de impossibilitar o aproveitamento total do leite das cabras em lactação.

2. Aleitamento artificial

A  técnica do aleitamento artificial é amplamente difundida nos sistemas de produção de leite de cabra ou ovelha. As crias neste sistema, são aleitadas com leite de cabra ou seus substitutos, o que aumenta a quantidade de leite de cabra disponível para venda e, conseqüentemente, os lucros do produtor.

VANTAGENS DO ALEITAMENTO ARTIFICIAL

· Permite o controle das quantidades ingeridas por cada animal, assegurando a ingestão de quantidades adequadas, além de possibilitar a avaliação dos custos de produção/animal;

Além de possibilitar maior quantidade de leite de cabra disponível para venda, o aleitamento artificial proporciona inúmeras outras vantagens:

· Possibilita o uso de sucedâneos do leite de cabra, diminuindo o custo de produção de animais desmamados, sem prejudicar seu desenvolvimento ponderal;

· Permite a medição real da quantidade de leite produzida pela cabra, para efeito de cálculo da média de produção leiteira/lactação;

· Evita contato dos filhotes com mais adultos;

· Redução da ocorrência de mamites traumáticas, causadas por sucções violentas (“marradas”);

· Evita contaminação da mama pela boca do cabrito;

· Permite a manutenção de medicamentos no úbere, entre ordenhas;

· Evita retenção de leite por morte da cria;

· Segurança da qualidade do leite ingerido;

· Homogeneidade nos lotes de cabritos, quanto ao tamanho (desenvolvimento semelhante

· Possibilidade de administração de medicamentos aos filhotes através do leite.

Em criatórios onde estão sendo formados animais mestiços de raças leiteiras, a partir de cabras comuns, o aleitamento artificial é indispensável. As cabras sem raça definida (SRD) dificilmente produzem leite em quantidade suficiente para alimentar os filhotes meio sangue de raças leiteiras, cujo desenvolvimento mais precoce. A ingestão de quantidade insuficiente de leite retarda o crescimento e, conseqüentemente, a obtenção de peso adequado para reprodução; o aleitamento artificial permite neste caso, diminuir a taxa de mortalidade e aumentar a taxa de crescimento dos filhotes mestiços.

Quando se utiliza o sistema de aleitamento artificial, recomenda-se que os filhotes sejam separados das mães logo após o nascimento. Após o parto, as mães são ordenhadas, sendo o colostro administrado em mamadeira individual. Esta separação precoce facilita a adaptação dos filhotes ao sistema artificial, evitando ainda choque emocional das mães, o qual prejudica a produção leiteira.

SUBSTITUTOS DO LEITE DE CABRA

Pela grande demanda de leite de cabra para produção de queijos finos e para indivíduos com problemas alérgicos ou gástricos, o sistema de aleitamento artificial tem sido adotado, através da utilização de sucedâneos do leite de cabra, para que este possa ser comercializado.

A partir da segunda semana de vida, o leite materno é gradualmente substituído por um sucedâneo, de forma que 14 dias de idade, os animais estejam recebendo somente o substituto. Nos dois primeiros dias após terminada a fase colostral, oferecer uma mistura de uma parte de sucedâneo para duas partes de leite de cabra; nos dois dias seguintes, 50% de cada. A seguir, passa-se a administrar por mais dois dias, 1 parte de leite de cabra para e de sucedâneo, e finalmente, somente o sucedâneo (Tab. 1).

Para que se obtenha desenvolvimento semelhante ao de filhotes alimentados com leite de cabra, recomenda-se que o sucedâneo seja dado em quantidades superiores (10-20%).

Leite em pó: além do leite de vaca in natura, outro sucedâneo eficiente é o leite de vaca, em pó, também conhecido como raspa ou varredura, adquirido em usinas beneficiadoras de leite, a custo mais baixo in natura. O leite de vaca, em pó, enriquecido é também encontrado à disposição no comércio. A composição do leite é importante, por influenciar diretamente no desenvolvimento ponderal dos filhotes. Assim sendo, deve-se buscar sucedâneos com 20-30% de gordura e iguais teores de proteína no extrato seco.

Sucedâneos à base de soja: até trinta dias de idade, os cabritos possuem no estômago, em quantidades significativas, somente enzimas destinadas à digestão da principal proteína do leite de origem animal (caseína). Somente a partir desta idade, apresentam a capacidade de digestão de proteínas de origem vegetal, tais como as da soja. Por tal motivo, o leite de soja ou produtos comerciais contendo soja, somente devem ser administrados após os trinta dias de idade, evitando-se com isto um atraso no desenvolvimento das crias ou mesmo altos índices de mortalidade por distúrbios intestinais.

QUANTIDADE E FREQÜENCIA DE ALEITAMENTOS

A taxa de crescimento é influenciada, dentre outros fatores, pela quantidade de leite ingerida. Para assegurar a ingestão de quantidade suficiente de colostro, recomenda-se que durante a primeira semana de vida, os cabritos sejam aleitados 4-5 vezes por dia. A partir daí, o leite passa a ser fornecido em três aleitamentos, assegurando-se a administração de 1,5 a 2,0 litros de leite/dia. Na semana que antecede a desmama, reduzir a quantidade de leite à metade, fornecida em um único aleitamento (Tab. 1).


TABELA 1 - ESQUEMA DE ALEITAMENTO PARA FÊMEAS DESTINADAS A RECRIA E DE MACHOS DESTINADO À REPRODUÇÃO

IDADE (DIAS)

TIPO DE LEITE*

FREQÜÊNCIA DE ALEITAMENTO/DIA

QUANTIDADE (LITROS/DIA)

1a 7

Colostro

4-5

0,5 – 0,8

8a 11

Cabra = vaca (2:1)

3

1,0 – 1,5

12a 15

Cabra + vaca (1:1)

3

1,0 – 1,5

16a 19

Cabra = Vaca (1:2)

3

1,5 – 2,0

20 a 83

Vaca

3

2,0

84 a 90

Vaca

1

1,0

Fonte: Gouveia et al, 1986.
*Proporção de leite na mistura

ALEITAMENTO COLETIVO

Durante a primeira semana de vida e, quando o número de animais é pequeno, o leite pode ser fornecido em mamadeiras individuais, preferencialmente transparentes, para facilitar a limpeza. A higiene das mamadeiras e bicos deve ser rigorosa e feita imediatamente após sua utilização.

Para um número maior de animais, recomenda-se a utilização de mamadeiras coletivas, que permitem o aleitamento simultâneo de vários animais com menor consumo de tempo. A diferença entre a quantidade de leite ingerida por cada animal neste sistema é pequena não sendo, portanto significativa já que os cabritos mamam muito rapidamente não havendo, portanto tempo para que esta diferença seja grande. Recomenda-se a formação de grupos de animais de tamanho semelhantes.

DESMAMA

A natureza do leite a ser utilizado, bem como a idade para desmama, estão diretamente relacionadas com a finalidade e que se destinam os animais. Em criações voltadas à produção leiteira, os machos mestiços possuem pouco valor, sendo abatidos precocemente. Para reduzir o custo de produção, recomenda-se a desmama precoce e o uso de sucedâneos mais baratos. Fêmeas destinadas a recria, para venda ou reposição do rebanho, bem como machos destinados à reprodução, devem ser aleitados até os 90 dias de idade, objetivando-se a obtenção de animais com pesos médios de 20 kg aos três meses e 30 kg aos sete-oito meses de idade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

GOUVEIA, A.M.G.; MAGALHÃES, H.H. & CAPISTRANO, C.M.B. Aleitamento artificial. Revista Cabra & Bodes, n.5, p. 5-7, 1986.

GOUVEIA, A.M.G.; MAGALHÃES, H.H. & CAPISTRANO, C.M.B. Aleitamento artificial. In curso de Iniciação à Caprinocultura, Unicapri, Belo Horizonte p.11-3, 1986. (mimeografado)

MINAS GERAIS. Secretaria da Agricultura. Programa de desenvolvimento da Caprinocultura em Minas Gerais. Belo Horizonte, s.d. 45p.

SOUZA, A. Manejo da reprodução.in Produção de Caprinos Leiteiros. EPEAL/CODEVASF, Maceio, p.23 1985.


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